Mito da caverna de Platão
O mito
ou “Alegoria” da caverna é uma das passagens mais clássicas da história da
Filosofia, sendo parte constituinte do livro VI de “A República” onde Platão
discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do
Estado ideal.
“Imaginemos
homens que vivam numa caverna cuja entrada se abre para a luz em toda a sua
largura, com um amplo saguão de acesso. Imaginemos que esta caverna seja
habitada, e seus habitantes tenham as pernas e o pescoço amarrados de tal modo
que não possam mudar de posição e tenham de olhar apenas para o fundo da
caverna, onde há uma parede. Imaginemos ainda que, bem em frente da entrada da
caverna, exista um pequeno muro da altura de um homem e que, por trás desse
muro, se movam homens carregando sobre os ombros estátuas trabalhadas em pedra
e madeira, representando os mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também
que, por lá, no alto, brilhe o sol. Finalmente, imaginemos que a caverna
produza ecos e que os homens que passam por trás do muro estejam falando de
modo que suas vozes ecoem no fundo da caverna.
Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes seriam o som real das vozes emitidas pelas sombras.
Suponhamos, agora, que um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com muita dificuldade e sentindo-se frequentemente tonto, ele se voltaria para a luz e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moverem-se por sobre o muro e, após formular inúmera hipóteses, por fim compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou limitado. .
Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro. Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último, veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então, que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa de todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade das sombras. E, então, eles o desprezariam....”
Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes seriam o som real das vozes emitidas pelas sombras.
Suponhamos, agora, que um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com muita dificuldade e sentindo-se frequentemente tonto, ele se voltaria para a luz e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moverem-se por sobre o muro e, após formular inúmera hipóteses, por fim compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou limitado. .
Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro. Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último, veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então, que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa de todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade das sombras. E, então, eles o desprezariam....”
A narrativa
expressa dramaticamente à imagem de prisioneiros que desde o nascimento são
acorrentados no interior de uma caverna de modo que olhem somente para uma
parede iluminada por uma fogueira. Essa ilumina um palco onde estátuas dos
seres como homem, planta, animais etc. são manipuladas, como que
representando o cotidiano desses seres. No entanto, as sombras das
estátuas são projetadas na parede, sendo a única imagem que aqueles prisioneiros
conseguem enxergar. Com o correr do tempo, os homens dão nomes a essas
sombras (tal como nós damos às coisas) e também à regularidade de
aparições destas. Os prisioneiros fazem, inclusive, torneios para se
gabarem, se vangloriarem a quem acertar as corretas denominações e
regularidades.
Imaginemos
agora que um destes prisioneiros é forçado a sair das amarras e vasculhar
o interior da caverna. Ele veria que o que permitia a visão era a fogueira
e que na verdade, os seres reais eram as estátuas e não as sombras.
Perceberia que passou a vida inteira julgando apenas sombras e ilusões,
desconhecendo a verdade, isto é, estando afastado da verdadeira realidade.
Mas imaginemos ainda que esse mesmo prisioneiro fosse arrastado para fora
da caverna. Ao sair, a luz do sol ofuscaria sua visão imediatamente e só depois
de muito habituar-se com a nova realidade, poderia voltar a enxergar as
maravilhas dos seres fora da caverna. Não demoraria a perceber que aqueles
seres tinham mais qualidades do que as sombras e as estátuas, sendo, portanto, mais reais. Significa dizer que
ele poderia contemplar a verdadeira realidade, os seres como são em si
mesmos. Não teria dificuldades em perceber que o Sol é a fonte da luz que
o faz ver o real, bem como é desta fonte que provém toda existência (os
ciclos de nascimento, do tempo, o calor que aquece etc.).
Maravilhado
com esse novo mundo e com o conhecimento que então passara a ter da realidade,
esse ex-prisioneiro lembrar-se-ia de seus antigos amigos no interior da caverna
e da vida que lá levavam. Imediatamente, sentiria pena deles, da escuridão em
que estavam envoltos e desceria à caverna para lhes contar o novo mundo que
descobriu. No entanto, como os ainda prisioneiros não conseguem vislumbrar
senão a realidade que presenciam, vão debochar do seu colega liberto, dizendo-lhe que está
louco e que se não parasse com suas maluquices acabariam por matá-lo.
Este
modo de contar as coisas tem o seu significado: os prisioneiros somos nós que,
segundo nossas tradições diferentes, hábitos diferentes, culturas diferentes,
estamos acostumados com as noções sem que delas reflitamos para fazer juízos corretos, mas apenas
acreditamos e usamos como nos foi transmitido. A caverna é o mundo ao nosso
redor, físico, sensível em que as imagens prevalecem sobre os conceitos,
formando em nós opiniões por vezes errôneas e equivocadas, (pré-conceitos,
pré-juízos). Quando começamos a descobrir a verdade, temos dificuldade para
entender e apanhar o real (ofuscamento da visão ao sair da caverna) e para
isso, precisamos nos esforçar, estudar, aprender, querer saber.
O mundo
fora da caverna representa o mundo real, que para Platão é o mundo inteligível
por possuir Formas ou Idéias que guardam consigo uma identidade indestrutível e
imóvel, garantindo o conhecimento dos seres sensíveis. O inteligível é o reino
das matemáticas que são o modo como apreendemos o mundo e construímos o saber
humano. A descida é a vontade ou a obrigação moral que o homem esclarecido tem
de ajudar os seus semelhantes a saírem do mundo da ignorância e do mal para
construírem um mundo (Estado) mais justo, com sabedoria. O Sol representa a Idéia
suprema de Bem, ente supremo que governa o inteligível, permite ao homem
conhecer e de onde deriva toda a realidade (o cristianismo o confundiu com
Deus).
Portanto,
a alegoria da caverna é um modo de contar imageticamente o que conceitualmente
os homens teriam dificuldade para entenderem, já que, pela própria narrativa, o
sábio nem sempre se faz ouvir pela maioria ignorante.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia -
UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP