sábado, 18 de junho de 2011

Globalização Brasileira - PARTE 01

O BRASIL E A GLOBALIZAÇÃO


A Globalização

A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural e espacial e barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final do século XX. É um fenômeno observado na necessidade de formar uma Aldeia Global que permita maiores ganhos para os mercados internos já saturados. Esse conceito de "aldeia global" foi criado por um sociólogo canadense chamado Marshall McLuhan que ficou mundialmente famoso ao publicar o livro "O Meio é a Mensagem". Foi o primeiro filósofo das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações, Aldeia global quer dizer simplesmente que o progresso tecnológico estava reduzindo todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia, ou seja, a possibilidade de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nela vive. Como afirmam muitos teóricos da globalização e alguns críticos do conceito que aqui discutimos, o mundo está longe de viver numa "aldeia" e muito menos global: o conceito de aproximação das pessoas numa aldeia, em que todos se conhecem e participam na vida e nas decisões comunitárias não se coaduna com a ideia de sociedade contemporânea. Além disso, partindo da ideia que o mundo está, de facto, interconectado, não deixa de ser verdade que, nesta aldeia, de nome tão utópico e optimista, muitos são os excluídos (basta lembrar o número de habitantes ligados à internet em algumas regiões africanas).
 A rigor, as sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o início da História. Mas o processo histórico a que se denomina Globalização é bem mais recente, datando (dependendo da conceituação e da interpretação) do colapso do bloco socialista e o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), do refluxo capitalista com a estagnação econômica da URSS (a partir de 1975) ou ainda do próprio fim da Segunda Guerra Mundial.
A globalização não é um acontecimento recente. Ela se iniciou já nos séculos XV e XVI, com a expansão marítimo-comercial européia. O que diferencia aquela globalização ou mundialização da atual é a velocidade e abrangência de seu processo muito, muito maior hoje.
As principais características da Globalização são a homogeneização dos centros urbanos, a expansão das corporações para regiões fora de seus núcleos geopolíticos, a revolução tecnológica nas comunicações e na electrónica, a reorganização geopolítica do mundo em blocos comerciais regionais (não mais ideológicos), a hibridização entre culturas populares locais e uma cultura de massa supostamente "universal", entre outros, a internacionalização da produçao e finanças, alteração da divisão internacional do trabalho e a criação de uma nova divisão do trabalho dentro das próprias empresas transnacionais, grande movimento migratório do hemisfério Sul para o Norte, a questão ambinetal e sua importância nas discussões internacionais, adaptação a economia mundial ou as transformações do mundo e o que a exaltação do livre mercado provocam.
Com isso no contexto de um país subdesenvolvido, os efeitos da globalização têm sido desastrosos, onde a competição e a competitividade entre as empresas tornaram-se questões de sobrevivência. A globalização da economia e das finanças beneficia, assim, amplamente, o grande capital, as grandes corporações transnacionais.

domingo, 12 de junho de 2011

Que fim levou Judas?


A CARIDADE E A JUSTIÇA

Esse é um dos mais poderosos poemas que conheço, obra de Guerra Junqueiro. Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Cintra 1850 –  Lisboa 1923) foi bacharel, funcionário público, deputado, jornalista e poeta. Foi o mais popular poeta de sua época, escrevendo panfletos que ajudaram a criar o ambiente revolucionário que conduziu a república em Portugal.


No topo do calvário erguia-se uma cruz,
E pregado sobre ela o corpo de Jesus.
Noite sinistra e má. Nuvens esverdeadas
Corriam pelo ar como grandes manadas de búfalos.


A Lua, ensangüentada e fria,
Triste como um soluço imenso de Maria,
Lançava sobre a paz das coisas naturais
A merencória luz feita de brancos ais.



As árvores que outrora em dias de calor
Abrigaram Jesus, cheias de mágoa e dor,

Sonhavam, na mudez hercúlea dos heróis.
Deixaram de cantar todos os rouxinóis.


Um silêncio pesado amortalhava o mundo.
Unicamente ao longe o velho mar profundo
Descantava chorando os salmos da agonia.
Jesus, quase a expirar, cheio de dor, sorria.


Os abutres cruéis pairavam lentamente
A farejar-lhe o corpo; às vezes, de repente,
Uma nuvem toldava a face do luar,
E um clarão de gangrena, estranho, singular,
Lançava sob a cruz uns tons esverdeados.


Crocitavam ao longe os corvos esfaimados.
Mas passado um instante a Lua branca e pura,
Irrompia outra vez da grande névoa escura,
E inundavam-se então as chagas de Jesus
Nas pulverizações balsâmicas da luz.



No momento em que havia a grande escuridão
Cristo sentiu alguém aproximar-se, e então olhou e viu surgir, no horror das trevas mudas, o covarde perfil sacrílego de Judas.
O traidor, contemplando o olhar do Nazareno,
Tão cheio de desdém, tão nobre, tão sereno,
Convulso de terror, fugiu...
Mas nesse instante
Surgiu-lhe frente a frente um vulto de gigante,
Que bradou:
-É chegado enfim o teu castigo!
O traidor teve medo e balbuciou:
     -Amigo, que pretendes de mim? Dize, por quem esperas?        Quem és tu?

-“O Remorso, um caçador de feras
Disse o gigante. Eu ando há mais de seis mil anos
A caçar pelo mundo as almas dos tiranos, do traidor, do ladrão, do vil, do celerado;
E depois de as prender tenho-as encarcerado
Na enormíssima jaula atroz da expiação.


E quando eu entro ali na imensa confusão
De tigres, de leões, d’abutres, de chacais,
De rugidos febris e de gritos bestiais,
Fica tudo a tremer, quieto de horror e espanto:


- Cai baixa a pupila e vai deitar-se a um canto.
E quando em suma algum dos monstros quer lutar
Azorrago-o com a luz febril do meu olhar,
Dando-lhe um pontapé, como num cão mendigo.
Já sabes quem eu sou, Judas; anda comigo!”

Como um preso que quer comprar um carcereiro,
Judas tirou do manto a bolsa de dinheiro,
Dizendo-lhe:
-Aqui tens, e deixa-me partir...



O gigante fitou-o e começou a rir.
Houve um grande silêncio. O infame Iscariote,
Como um negro que vê a ponta dum chicote, tremia.


Finalmente o vulto respondeu:
“Judas, podes guardar esse dinheiro; é teu.
O ouro da traição pertence-lhe ao traidor,
Como o riso à inocência e o aroma à flor.




Esse ouro é para ti o eterno pesadelo.
Oh! Guarda-o, guarda-o bem, que eu quero derretê-lo,
E lançar-to, gota a gota, inexoravelmente,
Em cima da consciência, a pútrida, a execrável!



Com ele hei de fundir a algema inquebrantável,
A grilheta que a tua esquálida memória
Trará, arrastará pelas galés da História,
Durante a eternidade ilimitada e calma.


Essa bolsa que aí tens é o cancro da tua alma:
Já se agarrou a ti, ligou-se ao criminoso,
Como a lepra nojenta ao peito do leproso,
Como o ímã ao ferro e o verme à podridão.


Não poderás jamais largá-la da tua mão!
És traidor, assassino, hipócrita, perjuro;
A tua alma lançada em cima dum monturo
Faria nódoa. É tudo que há de mais vil,
Desde o ventre do sapo à baba do réptil.


Sai da existência! Dize à sombra que te acoite.
Monstro, procura a paz! Verme, procura a noite!
Que o Sol não veja mais um único momento
O teu olhar oblíquo e o teu perfil nojento.


Esse crime, bandido, é um crime que profana
Todas as grandes leis da consciência humana,
Todas as grandes leis da vida universal.
Esconde-te na morte, assim como um chacal
No seu covil.


Adeus, causas-me nojo e asco.
Deixo dentro de ti, Judas, o teu carrasco!
És livre; adeus.


Já brilha o astro matutino,
E eu, caçador de feras, cumprindo o meu destino,
Continuarei caçando os javalis nos matos.”
E dito isto, partiu a procurar Pilatos.

Vinha rompendo ao longe a fresca madrugada
Judas, ficando só, meteu-se pela estrada,
Caminhando ligeiro, impávido, terrível,
Como um homem que leva um fim imprescritível,


Uma idéia qualquer, heróica e sobranceira;
De repente estacou. Havia uma figueira
Projetando na estrada a larga sombra escura;
Judas, desenrolando a corda da cintura,
Subiu acima, atou-a a um ramo vigoroso,
Dando um laço à garganta. 


O seu olhar odioso
Tinha nesse momento um brilho diamantino,
Reto como um juiz, forte como um destino.
Nisto ecoou através do negro Céu profundo
A voz celestial de Jesus moribundo,
Que lhe disse:


- “Traidor, concedo-te o perdão
Além de meu carrasco és ainda o meu irmão.
Pregaste-me na cruz é o mesmo, fica em paz,
Eu costumo esquecer o mal que alguém me faz.
Eu tenho até prazer, bem vês, no sacrifício.
Não te cause remorso o meu atroz suplício,
Estes golpes cruéis, estas horríveis dores;
As chagas para mim são outras tantas flores!”


Judas fitou ao longe os cerros do calvário,
E, erguendo-se viril, soberbo, extraordinário,
Exclamou:


- “Não aceito a tua compaixão.
A Justiça dos bons consiste no perdão
Um justo não perdoa. A justiça é implacável,
A minha ação é infame, hedionda, miserável;
Preguei-te nessa cruz, vendi-te aos Fariseus
Pois bem, sendo eu um monstro e sendo tu um Deus,
Vais ver como esse monstro, ó pobre Cristo nu,
É maior do que Deus, mais justo do que tu;
A tua caridade humanitária e doce,
Eu prefiro o dever terrível!”
E enforcou-se. "