terça-feira, 22 de março de 2016

A parte ruim de envelhecer (Entre as canetas - post sobre a morte de Gaúcho)

ENTRE AS CANETAS


por Ricardo Gonzalez

Envelhecer, por definição, não é ruim. Você corta caminhos, evita, ou pelo menos deveria saber evitar, desgastes e sofrimentos desnecessários, valoriza detalhes por cima dos quais a impetuosidade da juventude passa. A parte chata de envelhecer é quando começamos a perder pessoas com quem convivemos, ou de quem sentimos muita falta... Isso nos martela na memória que um dia também nós não mais poderemos conjugar o maravilhoso verbo viver. Essa reflexão se dá por causa da morte do ex-atacante do Flamengo, Gaúcho. 



Lamentei a morte de Telê Santana, com quem convivi e aprendi muito quando ele dirigiu o Flamengo e o São Paulo. Mas nossa diferença de idade, que não me permitiu vê-lo como jogador, amainou a tristeza com o pensamento de que era a ordem natural das coisas. Caso também de Carlinhos, com quem me diverti em muitas resenhas cobrindo o Flamengo. Diferente, por exemplo, da partida de Alcir Portella, um sujeito do bem, de quem  me tornei amigo, e a quem vi jogar bastante, mesmo menino, nos anos 70.

Mas quando partem jogadores de gerações mais próximas da minha, com os quais convivi diariamente como setorista de clubes... o vazio é maior. Caso, por exemplo, de Ézio, um camarada simples, muitas vezes arredio, mas com quem tive ótimo relacionamento nos anos de 93 e 95, cobrindo o Fluminense. Ou Leonardo, com quem convivi no Vasco de 96. Tímido, não muito chegado a entrevistas, perdia espaço para seu companheiro Juninho, desde sempre mais articulado e falante.

Com Gaúcho a relação não era tão estreita. Por coincidência não fui setorista do Flamengo no auge de sua carreira. Mas volta e meia cobri treinos, tempo suficiente para perceber que ele era um bon vivant, sujeito bonachão, tranquilo, bem humorado, sempre simpático. Em 91 e 92 mandava prender e soltar no Rio, ídolo da maior torcida do país, e jamais demonstrou que isso lhe subira à cabeça.

Enfim, sempre acho que quem parte está melhor do que quem fica. Ficar é, portanto, uma das partes ruins de envelhecer. Uma pena, porque o que levamos, nós que trabalhamos com jornalismo esportivo, são as amizades que fazemos. Até o dia em que vão embora...

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