sexta-feira, 21 de junho de 2013

Discurso de Dilma Rousseff

       Acabei neste momento de ouvir o discurso da Presidenta Dilma Rousseff em relação as manifestações que estão ocorrendo por todo país.
   Com as frases feitas de valorização da democracia e apoio as manifestações pacíficas, onde se repudiam as movimentações de violências e atos de depredação das propriedades públicas e privadas, o que mais me chamou a atenção foi quando Dilma disse com muita ênfase que, 100% dos royalties do petróleo serão destinados a educação.
      Além das partes de praxe e afirmações da não utilização e muito menos desvios dos recursos públicos para a construção dos estádios destinados a Copa do Mundo, foi pedido que sejamos bons anfitriões as seleções que participam da Copa das Confederações e principalmente da Copa do Mundo 2014.
    Ouvi também citação da geração da qual ela fez parte, onde enfrentaram a ditadura através de movimentos populares que foram muito mais violentos e violentados do que as manifestações atuais, também vivia-se numa época em que o Brasil era o melhor país para se viver, porém pagando o preço de esconder a verdade. A verdade que censurava-se tudo: televisão, músicas, jornais, artistas e cidadãos.
    Da falta de meios de divulgação e liberdade de expressão aqueles que enfrentaram esta situação, sofreram torturas extremas, assassinatos e desaparecimentos que até não se elucidaram completamente.
     Hoje, podemos respirar aliviado, que não teremos a repetição da história mostrada no filme: O que é isso, companheiro? Mas de lá pra cá, muita coisa mudou. Tivemos muitos progressos, mas ainda com a sensação que poderíamos muito mais.
       Muitas pessoas, inclusive eu a mais de 20 anos, escutam que o "O BRASIL É O PAÍS DO FUTURO.", porém se esse futuro ainda não chegou, talvez seja essa a hora.
        Nas discussões sobre o assunto, costumei falar que faltava um líder, faltava uma cara, faltava um símbolo, faltava um hino, para que as manifestações ganhassem ainda mais força e padrão de atitudes, porém agora eu digo: Por que precisamos de um rosto e tudo mais, pois nos últimos tempos fomos um povo que sofria calado, que não reagia a nada e que parecia preferir fechar os olhos para toda corrupção e fingir que está tudo bem, desde o movimento dos caras-pintadas.
        Enfim, se 100% dos royalties do petróleo forem, como disse a presidenta, destinados a educação realmente poderei ver uma ponta do futuro que tanto ansiamos.
         Fica aqui registrado meu mais profundo e orgulhoso agradecimento a todos os manifestantes pacíficos por todo o Brasil, que falaram em nome daqueles que mais sofrem com as falhas desse país, aqueles trabalhadores e pessoas que não se manifestaram, muitas vezes por falta de espaço na jornada cotidiana pelo ganha-pão.

Análise de 1965 (Duas Tribos) - Legião Urbana




Letra: Renato Russo
Álbum: As Quatro Estações (1989)

Vou passar, quero ver
Volta aqui, vem você
Como foi, nem sentiu
Se era falso, ou fevereiro
Temos paz, temos tempo
Chegou a hora e agora é aqui
Cortaram meus braços
Cortaram minhas mãos
Cortaram minhas pernas
Num dia de verão
Num dia de verão
Num dia de verão
Podia ser meu pai
Podia ser meu irmão
Não se esqueça, temos sorte
E agora é aqui
Quando querem transformar
Dignidade em doença
Quando querem transformar
Inteligência em traição
Quando querem transformar
Estupidez em recompensa
Quando querem transformar
Esperança em maldição
É o bem contra o mal
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
Com a luz e com os anjos
Mataram um menino
Tinha arma de verdade
Tinha arma nenhuma
Tinha arma de brinquedo
Eu tenho um autorama
Eu tenho Hanna-Barbera
Eu tenho pêra, uva e maçã
Eu tenho Guanabara
E modelos Revell
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país
Em toda e qualquer situação
Eu quero tudo Pra cima
Pra cima
Pra cima


O título, 1965 (Duas Tribos): 1965 é o 2º ano da ditadura militar (golpe militar de 1964), quando os militares fecharam as “portas” do país, tomaram o poder e cassaram os direitos políticos de inúmeros brasileiros, dentre eles artistas, políticos e estudantes. Duas Tribos, civis e militares.
1º momento: A Confusão. Seis primeiros versos da música. Observamos como se deu o golpe militar de 64, os militares nunca conseguiram explicar com clareza seus feitos, os reais motivos de tomarem o poder, passaram a idéia de “algo cinza”, se confundiram tentando explicar o inexplicável. “Como foi, nem sentiu/Se era falso ou fevereiro”: aqui se observa a real confusão do golpe, é “verdadeiro ou fevereiro”, é real ou não é? O que é falso? O que é verdadeiro? Agora estamos no poder “Temos paz, temos tempo” provavelmente temos, ou geramos, a paz e todo tempo do mundo. “Chegou a hora e agora é aqui”: 1964.
2º momento: A Censura e/ou tortura. Versos 7 a 14. Para entendermos o 2º momento, temos duas vertentes: A Censura e a Tortura. A Censura: no direito se expressar. Se não temos braços e mãos, estamos cerceados. Não podemos “dizer” o que pensamos. Censurados os direitos de ir e vir, se estamos com nossas pernas cortadas. A Tortura: Usando métodos de tortura física e psicológica os militares “interrogavam” os presos políticos. Nesse caso o “cortar” é literal mesmo, usado como recurso pra extrair a informação que desejavam dos presos. Essa Censura ou Tortura podia acontecer com todos indiscriminadamente, comigo, você ou nossos pais e irmãos, não importando o dia.
3º momento: Tentativa dos militares de popularizar sua ideologia. Versos 15 a 23. O 3º momento é uma crítica aos métodos de persuasão dos militares, e como eles forçavam a aceitação do seu poder, das suas vontades, empurrando sobre o povo seus ideais através de propaganda massiva. A dignidade é uma doença? Ou seja, ser digno é ser transformado em doente. Eram usados pelos militares variados métodos de investigação, entre eles a Inteligência, método utilizado por todas as polícias do mundo, inclusive em espionagem e contra-espionagem, mas que nesse momento era usado contra os “subversivos”, aqueles em desacordo com o governo. A Inteligência traía até os próprios colegas, os civis nem se fala, eram fichados e investigados de perto. Os militares veladamente protegiam informantes e pagavam uma espécie de recompensa para quem os ajudasse com informações sigilosas de cunho político. A esperança era a queda desse regime opressor, e a manifestação dessa esperança era severamente punida, daí chamar de maldição.
4º momento: Há dois caminhos, escolha o seu. Versos 24 a 29. Nesse momento o eu lírico fala da velha e conhecida luta do bem contra o mal, deixa clara a sua opinião de que há dois caminhos e nos incita a escolher enquanto afirma que está do lado do “bem”, em oposição ao “mal”, nesse caso a ditadura. O eu lírico repete que está do lado do bem várias vezes, pra no fim dizer que está do lado da luz e dos anjos: o “bem”.
5º momento: Atrocidades. Versos 30 a 33. O 5º momento é o ápice das atrocidades da ditadura brasileira, é uma crítica em se matar inocentes por muito pouco, e eles tinham armas reais enquanto “o menino”, não tinha como se defender, ou tinha somente a ilusão de que havia formas de lutar.
6º momento: Aumento de diferenças sociais. Versos 34 a 38. Naquela época quem tinha um brinquedo autorama? Quem conhecia os desenhos animados de Hanna Barbera? Quem tinha dinheiro. A minoria. E a crítica segue, agora com a comida que a população comum podia, ou não, comprar, ao mesmo tempo em que fala sobre uma brincadeira infantil, ilustrando uma infância tranqüila, que nem todas as crianças tinham. Revell é uma marca que vende kits que vêm com material para a montagem de miniaturas de carros, navios, aviões, etc., existe até hoje e é muito cara.
7º momento: País do presente. Verso 39 ao fim da música. Esse último momento é uma crítica à mentalidade brasileira da época, que considerava o Brasil como um país “do futuro”, seremos um país do futuro até quando? Temos que ser um país do presente, o futuro é agora, já, aqui mesmo, agora! Há uma repetição, um futuro que parece ser distante e que nunca chegará. Mas seja qual for a situação o povo brasileiro é valente, acredita no país e tem esperança que esse futuro não tarde muito e que em breve chegará (fim da ditadura), com liberdade de expressão, de ir e vir entre outras, por isso mantém seu ânimo, se mantém “pra cima”, mesmo nessa situação ruim.

É bom lembrar que essa análise é uma tentativa de entender o que o autor da música quis dizer, não necessariamente a exposição de uma realidade. A música expressa opiniões e sentimentos de quem a compõe. Quando o compositor tem boa consciência e educação política, que é o caso de Renato Russo, e se propõe a falar de algo específico, pode no mínimo nos dar o que pensar.

Temos que ter cuidado com a “demonização” da ditadura, se por um lado os direitos políticos foram cerceados (voto, liberdade de escolha de partido, etc.), por outro o governo compensou ampliando os direitos civis (educação, saúde, etc.). Ainda que algumas instituições públicas, como a escola, por exemplo, fossem usadas para difundir os padrões de comportamento que os militares queriam que a população tivesse, não é o caso de pensar que a população sofria sem parar. 


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